Introdução
No Brasil República, devido ao golpe que foi dado em 1889 na Família Imperial, as elites latifundiárias intensificaram o seu poder e conduziram o país de acordo com os interesses corporativistas da classe produtora de café e leite, representadas por São Paulo e Minas Gerais, respectivamente.
Nesse contexto, um ponto que também é importante mencionar, apesar de óbvio para os libertários, é que os interesses corporativistas dos latifundiários não iriam de encontro, na maioria das vezes, com os interesses da população comum, visto que havia um intensivo controle de preços, a exemplo do que foi conhecido por Convênio de Taubaté.
O Convênio de Taubaté foi uma das inúmeras ações absurdas de políticas intervencionistas, as quais, como menciona Mises, resultam em distorções econômicas:
”O governo quer interferir com a finalidade de obrigar os homens de negócio a conduzir suas atividades de maneira diversa da que escolheriam caso tivessem de obedecer apenas aos consumidores. Assim, todas as medidas de intervencionismo governamental têm por objetivo restringir a supremacia do consumidor. O governo quer arrogar a si mesmo o poder – ou pelo menos parte do poder – que, na economia de mercado livre, pertence aos consumidores.’’
Essa política de controle de preços, erroneamente, agia por meio da compra do estoque excedente de sacas de café por parte do Governo Federal, a fim de sustentar o preço do café no mercado mundial.
Mas, como a questão da produção depende da demanda, criou-se uma distorção econômica gravíssima.
O plano de Getúlio Vargas
Quando o ditador Getúlio Vargas chega ao poder com o objetivo de industrializar o Brasil, já que em sua lógica desenvolvimentista, razão pela qual o Brasil era, naquele momento, atrasado, devia-se ao fato de uma política industrial fraca e também à política voltada à agropecuária.
A Política Industrial e de Modernização do Estado de Vargas, como é conhecida, cria graves problemas que se estendem até a contemporaneidade como a alta concentração de oligopólios nos mais variados setores e a queridinha dos progressistas, a CLT, que se resume a um apanhado de leis trabalhistas copiadas de regimes fascistas europeus, que atrasa e dificulta a vida do pequeno e médio empreendedor.
O plano de Vargas era totalmente centralizador, pois visava o controle social nos mais variados âmbitos, por exemplo: abolição das bandeiras estaduais, já que ele, como outros fascistas, têm o interesse errôneo de uniformizar a sociedade e extinguir o identitarismo da esfera estatal para que não haja nenhuma identificação que vá contra os interesses do Estado.
Além disso, o ditador proibiu que se falassem outras línguas no território nacional brasileiro, pelo que foi denominado como Campanha de Nacionalização.
Agora que já foi explicitado o caráter daquele que é o “queridinho” do meio acadêmico no Brasil, vamos falar da Revolução de 1932.
A Revolução de 1932
Primeiramente, a Revolução de 1932 foi um movimento que é tido pelo mainstream acadêmico como elitista, causado pela influência das elites latifundiárias.
No entanto, esse tipo de abordagem não leva em conta o fato de que as “elites cafeeiras paulistas”, se é que se pode generalizá-las, terem aderido à revolução não exclui a possibilidade de o povo ter feito o mesmo.
Além dessa constatação lógica, o povo não só poderia participar dessa revolução, como participou.
Os mártires da Revolução expressam a heterogeneidade do movimento, já que dois dos mártires, Martins e Camargo, eram de famílias de cafeicultores, já Miragaia era auxiliar de um escritório de seu tio, Dráusio auxiliava seu pai na farmácia da família e Alvarenga era escrevente.
O povo de São Paulo, heterogêneo, movido por causas espontâneas, juntou-se a fim de batalhar contra a ditadura imposta por Getúlio Vargas, no dia 23 de maio de 1932, na Praça da República.
Os mártires anteriormente citados foram brutalmente assassinados por uma milícia leal a Vargas, o PPP. Os mártires, nesse ocorrido, faziam parte de um grupo de pessoas insatisfeitas com a situação ditatorial daquele momento e invadiram a sede do partido, o que resultou tragicamente na morte desses heróis.
Anteriormente à morte dos mártires, no dia 25 de Janeiro, data de comemoração do aniversário da cidade de São Paulo, o povo foi às ruas clamar por democracia e pela deposição do ditador rio-grandense.
Embora a democracia não seja vista por libertários como uma forma legítima de poder, até os dias atuais muitas pessoas associam o sistema democrático como opositor de um sistema ditatorial, então não é de se estranhar que os mais de 100 mil paulistas que foram às ruas tivessem essa noção equivocada.
O cenário da morte dos mártires associado à insatisfação popular foi o estopim para a declaração de guerra do Estado de São Paulo ao resto do Brasil, com exceção do Sul do Estado de Mato Grosso (Atual Mato Grosso do Sul)
Em homenagem, a milícia paulista organizadora da revolução foi nomeada por MMDC.
São Paulo contou com mais de 30 mil homens movidos pelo espírito bandeirante de Antônio Raposo Tavares. O sentimento de pertencimento à terra e a luta pela liberdade fizeram com que, apesar da desvantagem de armamento e de força humana, o povo paulista resistisse por pouco menos do que três meses.
Apesar da vitória da União, Getúlio Vargas teve seu poder enfraquecido e dois anos depois o sistema democrático voltou.
Apesar de o sistema democrático não ser o desejável para a única e verdadeira liberdade, a capacidade de união e o espírito desbravador paulista foram de suma importância para o enfraquecimento daquele sistema que os oprimia.
É necessário, portanto, que nos inspiremos e aprendamos com os erros desse fato histórico, que nunca nos esqueçamos daqueles que lutaram pela liberdade, mesmo que as condições fossem totalmente desfavoráveis.
Lembremos de 23 de maio.
Texto escrito por Davi Mendes