por Luciana Toledo

“Nenhum povo e nenhuma parte de um povo será detido contra sua vontade em uma associação política que ele não queira.” Ludwig von MisesNação, Estado e Economia, p. 34

Quando o assunto da secessão da Catalunha voltou a ser discutido, em 2017, alguns libertários levantaram a questão sobre a validade de se defender a secessão de um povo cujo viés político tende ao socialismo. Alguns argumentaram que, por este motivo, não seria válido defender a secessão daquele grupo, pois estaríamos incentivando a formação de mais um país com ideologia alinhada com a esquerda.

As pessoas que não têm conhecimento sobre libertarianismo acham que a secessão de um grupo de pessoas só é válida sob a condição deste se separar para se tornar uma sociedade libertária. Este pensamento, por si só, já vai contra o que defende o libertarianismo, pois as pessoas devem ser livres para escolher o próprio destino, mesmo que este seja o abismo e o colapso para o grupo em questão. 

Mesmo que a secessão signifique o fracasso deste grupo, ele tem o direito de buscá-la, pois ninguém pode ser obrigado a permanecer unido a um grupo de pessoas com o qual não se identifica. Nem mesmo a desculpa do fracasso econômico e social podem ser impedimento para a busca da liberdade. 

A liberdade vem primeiro 

É importante salientar que não há como ter certeza de que a secessão será sempre bem sucedida para qualquer grupo que a deseje. Por mais que o libertário queira o sucesso absoluto para uma determinada comunidade, pois há a necessidade de produzir a prova cabal de que o libertarianismo é a melhor opção para uma sociedade triunfar como nação, é preciso ter em mente que as escolhas do próximo não estão condicionadas à sua aprovação para que sejam postas em prática. 

De acordo com o princípio libertário, não nos diz respeito quando um grupo de pessoas decide como comandar a própria vida, desde que isso não interfira na forma como conduzimos nossas vidas. Se a decisão deste grupo não fere os direitos individuais de propriedade e liberdade dos demais, o que se pensa a respeito da secessão de tal grupo é irrelevante.

Este talvez seja o princípio mais contundente da filosofia libertária: aprender a conviver com as escolhas do próximo quando estas não dizem respeito a mais ninguém a não ser aos diretamente envolvidos. É como lidar com aquele conhecido que não se tem a certeza de que ele esteja fazendo a melhor escolha, queremos o melhor para aquela pessoa, mas não podemos interferir nas suas decisões e a única coisa que podemos fazer é torcer para que dê tudo certo. 

Conclusão

É, portanto, um erro condicionar a secessão ao pré-requisito de que determinado grupo deva adotar o libertarianismo como filosofia central, transformando-se automaticamente em uma sociedade libertária no momento da secessão. 

A liberdade vem antes de tudo e não pode ser imposta e, por mais odiosa que seja a possibilidade de a secessão favorecer até seus inimigos intelectuais, ela deve ser apoiada, pois, em princípio, a secessão pode não representar a liberdade como os libertários a desejam, mas assim que o processo de secessão é iniciado, de alguma forma, o processo de mais liberdade também já começou para aquela comunidade. 

A curto prazo pode não parecer, mas a médio e longo prazos mais pessoas buscarão a secessão com o intuito de se livrarem daquela comunidade cujo viés político e ideológico é contrário àquele que elas se identificam. 

Finalizo este texto com mais um pensamento do Ludwig von Mises com relação à este tema. Este talvez tenha sido o austríaco que mais abordou este assunto, o que o torna um autêntico defensor da secessão até o nível do indivíduo:

“O direito à autodeterminação em relação à questão da pertença a um estado significa, portanto: sempre que os habitantes de um determinado território, seja uma única aldeia, um distrito inteiro ou uma série de distritos adjacentes, deem a conhecer, por um plebiscito conduzido livremente, que eles não desejam mais permanecer unidos ao estado a que pertencem no momento, mas desejam formar um estado independente ou vincular-se a algum outro estado, seus desejos devem ser respeitados e cumpridos. Esta é a única forma viável e eficaz de prevenir revoluções e guerras civis e internacionais.” Liberalismo, p. 109