Para os paulistas, o dia 9 de julho tem um grande significado, a ponto de ser feriado estadual. Mas muitos paulistas, e também muitos brasileiros em outros Estados, pouco ou nada conhecem sobre o significado dessa data. Para entender o significado de 9 de julho é necessário fazer uma viagem no tempo. Convido o leitor a fazer essa viagem, à época de 1932, e reviver os acontecimentos daquele tempo do Brasil. Está pronto? Então lá vamos nós…

O poder pela política do Café com Leite
Há muito tempo, desde a época do Império, o Brasil mantinha o equilíbrio no poder alternando a presidência entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais, os dois Estados de maior força na época, sistema chamado de “Política do café com leite”. Os outros Estados contentavam-se em assumir a vice-presidência e somente quando os Estados “donos do poder” não se entendiam, a presidência era assumida por outro, como foi o caso do paraibano Epitácio Pessoa em 1919, presidente eleito entre o paulista Rodrigues Alves e o mineiro Artur Bernardes. Mas o não cumprimento dessa “Política do café com leite” levaria o Brasil a sair do rumo da normalidade constitucional e o povo paulista a pegar em armas. Em 1926 tinha sido eleito para presidente o senador Washington Luiz Pereira de Souza, ex-governador de São Paulo de 1920 a 1924. Apesar de realizar muito pelo país surgiram muitas insatisfações com o seu governo, em especial devido ao grande desemprego e a repressão às constantes greves operárias e às restrições da liberdade de imprensa e de reuniões. O Brasil, nessa época, passava por dificuldades sócio-econômicas, um reflexo da crise mundial que tinha ocorrido em outubro de 1929 com a queda da economia, tendo sido afetados todos os setores econômicos do país causando grande desemprego, havendo dois milhões de desempregados em todo o Brasil, tendo a cidade de São Paulo em torno de 400.000 desempregados. Essa crise mundial tinha afetado, em especial, a monocultura do café, alicerce sócio-econômico do Brasil da época. Além da insatisfação do povo, havia muita insatisfação nos opositores do governo e esta ficou maior quando o presidente não escolheu o candidato natural para presidente, pela “Política café com leite”, o governador mineiro Antonio Carlos, mas escolheu o governador paulista Júlio Prestes.
Antonio Carlos não abria mão da vez de Minas Gerais assumir a presidência e desafiou: – Se o próximo presidente não for mineiro, não o será paulista! Com esse desafio, lançava a candidatura do governador gaúcho, Getulio Vargas, sendo vice o governador da Paraíba, João Pessoa. Em primeiro de março de 1930, Júlio Prestes vencia as eleições para presidente, mas Getulio Vargas não aceitando ter sido derrotado, lançou Manifesto denunciando a eleição e agredindo o novo presidente. Para piorar a situação, o ex-candidato a vice, João Pessoa, foi assassinado, por motivos pessoais, em uma confeitaria no Recife, no dia 26 de julho. A oposição logo transformou o morto em “vítima do governo” e isso foi um estopim para mobilizar todos , criando as condições que levaram a ser iniciado um movimento militar contra o governo federal. E assim, no dia 3 de outubro explodiu a Revolução de 1930, comandada pelo gaúcho Getulio Vargas, e sem luta armada, retirou do poder o presidente, faltando menos de um mês para o término do seu mandato.
Getulio Vargas assumia como chefe de um Governo Provisório até serem realizadas novas eleições e elaborada uma nova Constituição. Mas as suas ações no governo provocaram uma grande decepção em todos que tinham intenções democráticas e patrióticas. Logo que tomou o poder, Getulio imediatamente suspendeu a Constituição de 1891, dissolveu o Congresso Nacional, e por Decreto, assumiu poderes ilimitados de presidente, atitudes ditatoriais. Substituiu todos os governadores e prefeitos e nomeou em seus lugares interventores federais, os “tenentes”. A substituição em massa das autoridades das cidades paulistas revoltou os 7 milhões de habitantes do Estado de São Paulo, que passou, assim, a ser uma terra conquistada pelos “tenentes”, os revolucionários de Getulio, membros da Legião Revolucionária e do Partido Popular Paulista. Os representantes do Getulio nos postos de comando do governo estadual, passaram a ter atitudes que não agradavam às lideranças do Estado. Com o passar do tempo, o sentimento de revolta dos paulistas foi aumentando. Um dos manifestos publicados na época mostrava essa revolta: … “São Paulo repele com energia a intervenção de falsos guias e pretensos salvadores… Basta de sofrimentos e humilhações, de decepções e sobressaltos…” O sentimento de revolta dos paulistas contra Getulio Vargas e seus representantes começou a explodir em manifestações populares.
Em 25 de janeiro de 1932, no Largo da Sé, uma multidão manifestava a sua vontade de libertação da terra paulista. Em 17 de fevereiro foi criada a Frente Única, unindo todos os partidos políticos para “lutar pelos ideais de “autonomia de São Paulo e pela constitucionalização do Brasil”. A cada dia mais paulistas aderiam a esses ideais e assim muitos setores da sociedade começaram a conspirar contra o governo de Getulio. Uma Comissão foi organizada, com militares e civis, para planejar as ações e coordenar, na capital e no interior, pessoal e materiais para a revolução. Uma luta armada contra o governo imposto por Getulio, era visto como o único caminho. Não havia mais condições de aceitar os desmandos do seu governo.
A indignação e revolta do povo paulista foi acontecendo num crescendo, aumentando a cada dia até que começou a explodir. No dia 21 de maio o povo recebia a notícia da chegada do ministro da Fazenda, Osvaldo Aranha. Rádios e jornais mobilizaram o povo contra essa visita e o que ela significava, os desmandos de Getulio Vargas. No dia 22, o povo agitado, mostrava nas ruas que não aceitava a presença do ministro. Oradores inflamados discursavam em vários pontos da cidade e pediam armas para o povo e a derrubada do governo de Getulio Vargas. O povo tinha estado tão agitado nesse dia que o dia 23 de maio amanheceu com o comércio fechando as suas portas e liberando os seus empregados que logo engrossaram a multidão que explodia em manifestações por toda a parte, gritando contra Getulio e seu ministro. E vários choques começaram a ocorrer entre o povo e os membros da Legião Revolucionária e do Partido Popular Paulista, que apoiavam Getulio. Em todo lugar o clima geral era de guerra civil.

Os primeiros paulistas as morrerem pelo idealismo e o MMDC
Um grupo mais extremado alvejou a tiros a redação do Correio da Tarde, jornal de apoio a Getulio e em seguida depredou as instalações do jornal A Razão, da família de Osvaldo Aranha. Outro grupo abriu à força casas de armas e munições das Ruas Boas Vistas e Libero Badaró. A massa armada, em corrente descontrolada chegou até a esquina da Praça da República com Barão de Itapetininga, sede do Partido Popular Paulista. O ataque começou, revidado por gente preparada e fortemente armada, de dentro da sede do Partido. A fuzilaria a cada momento aumentava, com uso de granadas, jogadas na praça. Os atacantes tentaram incendiar a sede do Partido com garrafas de gasolina. O tiroteio fez as primeiras baixas nos paulistas. Estavam no chão da praça Mário MARTINS de Almeida, Euclides Bueno MIRAGAIA e Antonio Américo de CAMARGO Andrade. Durante a madrugada os líderes revolucionários denominaram o movimento paulista como “Guarda Paulista”. Um outro ferido gravemente naquele dia 23, um menino de 14 anos, Dráusio MARCONDES de Souza, faleceu na tarde do dia 27 de maio. Á noite, os líderes rebatizaram o movimento revolucionário como “MMDC” em homenagem aos primeiros mortos. Assim, as iniciais dos nomes dos primeiros que tombaram mortalmente formaram a sigla da sociedade M.M.D.C. (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo), a “forja e o martelo da revolução”, entidade que começou, ainda nos dias de maio, a se organizar e a reunir voluntários, técnicos, estudantes universitários, preparando pelotões de guerrilheiros do tipo “apresentação e ação fulminantes”. Esses pelotões começaram a ser organizados em toda a cidade de São Paulo e seriam ativados mediante senhas secretas, a serem transmitidas no momento do levante armado, e ocupariam pontos estratégicos, repartições públicas, estações ferroviárias, emissoras radiofônicas e outros locais escolhidos. No dia 10 de agosto de 1932 o Governador Pedro de Toledo assinou o Decreto nº 5627 denominando a sigla M.M.D.C. como símbolo da Revolução.
Armas e munições foram distribuídas e a produção secreta de uniformes e outros materiais foi acelerada. O M.M.D.C. se organizou mais como a direção do abastecimento, a intendência, as finanças, a engenharia, a saúde, o correio militar, a propaganda, a mobilização popular e os serviços auxiliares. Tudo está sendo preparado para ser acionado quando a revolução fosse iniciada…
Nos dias seguintes, tropas do Exército, chamadas de outras cidades, mantiveram a ordem na capital. Aparentemente a situação ficou em calma alguns dias. Mas era apenas aparência de calma antes de desabar a tempestade dos tiros de canhões.
Para piorar a situação, Getulio Vargas nomeou para Ministro da Guerra o general Espírito Santo Cardoso, que estava reformado há mais de 10 anos e, por isso, era desconhecedor dos problemas do Exército. E devido a “também inspirar fundadas apreensões sob o aspecto moral”, foi feito um protesto por escrito contra essa nomeação, pelo general Bertholdo Klinger, comandante das tropas federais em Mato Grosso e forte aliado da causa paulista. O protesto do general Klinger precipitou a tempestade da revolta paulista.
E às 23 horas da noite de 9 de julho de 1932, sob o comando do General Isidoro Dias Lopes e do coronel Euclides Figueiredo, chefes do Estado Maior Revolucionário, explodiu o movimento militar dos paulistas contra Getulio Vargas, uma guerra civil, o maior conflito militar do Brasil no século XX. Toda a população paulista se uniu nessa luta, desejando trazer de volta certos valores como liberdade e democracia, representados nos objetivos: eleições para presidente e governadores, e uma nova Constituição para o Brasil. Devido a esses objetivos, a Revolução de 1932 foi chamada de Constitucionalista.

A senha e contra senha da revolta paulista
A senha “Sergipe” e a contra-senha “37” correram entre os civis já registrados e arregimentados em batalhões pelo M.M.D.C. e entre os militares da Força Pública (atual Polícia Militar), e das guarnições do Exército existentes no Estado de São Paulo. As tropas paulistas não avançaram até o Rio de Janeiro. O plano era que São Paulo iria se levantar em armas junto com Minas Gerais e o Rio Grande do Sul, o General Klinger desceria do Mato Grosso com uns 5.000 homens e juntos com outras tropas e voluntários seguiriam todos até a capital federal, o Rio de Janeiro, destituiriam Getulio e uma Junta governaria o país, convocando eleições imediatamente e promulgaria uma nova Constituição no ano seguinte. No entanto, as tropas paulistas pararam na cidade de São José do Barreiro, antes de Bananal, a última cidade paulista na estrada para o Rio de Janeiro. Pararam na espera dos aliados gaúchos e mineiros para avançarem para o Rio. Mas os mineiros e gaúchos não chegaram e nem o reforço de tropa do General Klinger. Os paulistas, sozinhos, tiveram que enfrentar as tropas do Getúlio. Trincheiras foram cavadas nas várias frentes, e São Paulo ficou sozinho para a luta com 7 aviões, 44 canhões, contra 24 aviões e 250 canhões das forças do Getúlio.

As frentes de combates
Entre São José do Barreiro, no nordeste paulista, e Cruzeiro, no sopé da serra da Mantiqueira, fronteira com Minas Gerais, posicionou-se o grosso da tropa paulista para fazer frente às tropas que viriam do Rio de Janeiro. Na linha Jataí e Areias, posicionou-se força mista de infantaria e artilharia e sobre a ferrovia Central do Brasil, em Queluz, destacamento de infantaria e artilharia. E em outros lugares pelo Estado de São Paulo, outras tropas estabeleceram as defesas das fronteiras.
Os primeiros combates logo ocorreram. Os paulistas nas trincheiras de vanguarda de São José do Barreiro, abriram fogo contra a tropa de Getúlio que avançava na penumbra da estrada, depois de terem tomado Bananal. Atacando pelos flancos, a infantaria paulista colocou as tropas do Getúlio em desvantagem. O combate com muitos tiros durou horas, com grandes perdas de ambos os lados. A tropa getulista não esperava encontrar paulistas aguerridos e destemidos, por isso recuou, correndo. Como as espadas que muitos deles tinham à cintura atrapalhassem a fuga, os soldados foram tirando da cintura a bainha com a espada e o cinto, largando-os por onde corriam… No amainar dos combates, já altas horas da noite, a tropa paulista, conforme já planejado, recuou para uma melhor posição, no morro Fino, enorme morro na saída de São José do Barreiro. Nas trincheiras, naquela madrugada dos primeiros combates, os soldados receberam uma garrafinha de café, uma latinha do tamanho de um ovo, de leite condensado Nestlé e um pão com bolachas…

Três meses de combates por ideais
E por três três meses, os paulistas lutaram sozinhos contra todos os outros Estados. Na retaguarda, o povo se uniu para ajudar em tudo o que fosse necessário, voluntários civis aviadores pilotando aviões, outros lutando como soldados ou como padioleiros que recolhiam feridos levando-os da frente de combate para a retaguarda, mulheres costuravam uniformes, fazendo pão ou preparando alimentação que eram enviados aos combatentes… Durante esses três meses, uma luta desgastante de trincheiras, com sangrentos combates aconteceram em várias frentes de luta, em especial nas fronteiras paulistas com Minas Gerais e com o Rio de Janeiro, o Estado onde ficava a capital federal e a sede do governo de Getulio Vargas.
Essa região do Vale do Paraíba foi chamada de Frente de Combates Norte, ou Frente Norte, região do Vale, no lado paulista, que engloba as cidades de Bananal, São José do Barreiro, Areias, Silveiras, Lavrinhas, Queluz, Cruzeiro, Cachoeira Paulista, Lorena, Cunha, além de Guaratinguetá e Aparecida do Norte.

Dois exércitos em guerra, mas em continência à mesma bandeira
E nessa Frente Norte de combates, na alvorada do dia 7 de setembro, um fato marcante mostrou que apesar de lutarem em lados opostos, tropas paulistas e as governistas tinham no coração um mesmo país, o Brasil. Os paulistas começaram a hastear a bandeira nacional no ponto mais alto das suas trincheiras, enquanto os clarins tocavam a saudação em continência à bandeira nacional.
Os combatentes paulistas subiram ao topo de suas trincheiras, expondo-se ao fogo das tropas de Getulio. O tiroteio emudeceu do lado dos governistas e estes se colocaram também de pé, em cima das trincheiras. Todos os combatentes ficaram de pé, ao sol daquela manhã de 7 de setembro de 1932 enquanto a bandeira verde-amarela tremulante subia ao topo do mastro, no dia em que se comemora a independência do Brasil. Os dois exércitos adversários pararam a batalha para prestar continência ao símbolo do país pelo qual todos lutavam.

Os últimos combates
Nos últimos dias de setembro, toda a Frente Norte de combates tinha recuado para as trincheiras da região de Engenheiro Neiva, entre Lorena e Guaratinguetá, região onde atualmente está localizada a empresa Basf SA.
As trincheiras de Engenheiro Neiva seriam o último lugar de combates da Revolução de 1932. A última noite nessas trincheiras tinha sido terrível, com canhões 120 e metralhadoras cuspindo fogo, jogando terra em cima dos soldados, dentro das trincheiras ou explodindo dentro delas, tirando a vida de muitos paulistas. A batalha no último dia de combates se iniciou com o assalto das tropas de Getulio.
O fogo contra os paulistas durante esse último dia concentrou-se em cima da grande trincheira que cobria toda a região de Engenheiro Neiva. Ao final da tarde do dia 2 de outubro, a batalha cessou, pois havia chegado a notícia da assinatura da rendição, feito em separado pela Força Pública. Havia chegado a ordem de suspender o fogo e retirar toda a tropa, pois com a retirada dos soldados da Força Pública não havia mais condições de manter a luta. Todos os combatentes que ainda estavam nas trincheiras, começaram a arrastar-se pelo valo das trincheiras, interligadas umas com as outras e começaram a recuar. Bem afastados das trincheiras, caminhões esperavam os soldados. Os soldados recuavam para Guaratinguetá, onde pegariam um trem que levariam todos para a capital paulista.

Os idealistas da última trincheira
O dia escurecia. O último caminhão, com os faróis apagados seguiu pela estrada estreita, em direção à cidade, fechando o comboio de caminhões lotados de soldados e suas armas. Os soldados que estavam no último caminhão, olharam para trás, melancolicamente, para as trincheiras emolduradas pelo que ainda restava da luz do sol que já se escondia atrás dos contornos da Serra da Mantiqueira, ao fundo do Vale… Estavam indo embora os idealistas das últimas trincheiras… A batalha das trincheiras de Engenheiro Neiva tinha sido a última batalha da Revolução de 1932. As últimas trincheiras de 1932, imortalizadas no poema de Guilherme de Almeida “Oração ante a última trincheira”: … “Esta é a trincheira que não se rendeu: A que deu à terra o seu suor, A que deu à terra sua lágrima, A que deu à terra o seu sangue! Esta é a trincheira que não se rendeu: A que é nossa bandeira cravada no chão. Pelo branco do nosso ideal. Pelo negro do nosso luto. Pelo vermelho do nosso coração! A que atenta, nos vigia; A que invicta, nos defende; A que eterna, nos glorifica! Esta é a trincheira que não se rendeu. A que não transigiu, a que não esqueceu, A que não perdoou! Esta é a trincheira que não se rendeu…” O tiroteio das armas havia cessado. A Revolução de 1932 tinha chegado ao seu fim. Não havia mais condições de lutar. Mas São Paulo havia combatido o bom combate, caindo de pé, moralmente vitorioso, apesar de derrotado nas armas. Os paulistas haviam oferecido a sua carne e o seu sangue pela liberdade e pela constitucionalização do Brasil. É como se tivessem gritando, como escreveu o Dr. Luiz Vieira de Mello em “Renda-se, paulista!”: “Homens da ditadura! O lema de São Paulo é Vencer ou Morrer. Estamos vencidos, vamos morrer! Nesta cidade tendes tudo o que é São Paulo, quase tudo o que é o Brasil! Aqui estão as suas fábricas, as suas riquezas, as suas lavouras, os seus homens e as suas famílias! Vinde se quiserdes! Fazei cantar os vossos canhões! Roncai a metralha! Avançai no assalto! Tudo aceitaremos. Ficais sabendo, que quando entrardes em São Paulo, só encontrares ruínas e cadáveres! Tereis matado o Brasil!” Os combates não chegaram a ocorrer dentro da cidade de São Paulo. Iniciada a 9 de julho, a Revolução foi encerrada três meses depois, em 2 de outubro de 1932, com armistício assinado na cidade de Cruzeiro, uma rendição assinada apenas pela Força Pública e não pelo comandante das tropas paulistas, Cel Euclides Figueiredo, pois ele havia considerado humilhantes demais os termos da rendição, no armistício proposto pelo representante do Getulio, general Goés Monteiro. Foram 135 mil soldados e voluntários paulistas que com bravura lutaram nas trincheiras do Vale do Paraíba e outras fronteiras de São Paulo, nos morros, nos túneis e nos vales.

“… A história de um povo que não quis ser escravo…”
O promotor Ibrahim Nobre, em discurso inflamado em praça pública em São Paulo, clamou contra o final da Revolução: …”A Revolução não deveria terminar assim. Depois que fossem os filhos, iriam os pais. depois que eles morressem, iriam as irmãs, as noivas. Todos morreriam. Mais tarde, quando alguém passasse por aqui, neste São Paulo deserto, sem pedra sobre pedra, levantando os olhos para o céu, haveria de ler, no epitáfio das estrelas, a história de um povo que não quis ser escravo.” Os principais chefes da Revolução de 1932 foram exilados em Portugal, tendo sido transportados pelo navio-presídio Siqueira Campos. Eram 48 oficiais do Exército, 3 oficiais da Força Pública, e 53 civis, entre políticos, técnicos e intelectuais. Um número elevado de outros foram confinados no grande presídio existente na Ilha Anchieta, em frente às praias Grande e Toninhas, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo. São Paulo havia forçado Getulio Vargas a fazer o país voltar à constitucionalização. Do sacrifício de 830 paulistas que tinham tombado mortalmente nos combates, dando a sua vida e o seu sangue, pelos ideais democráticos, tinha surgido uma nova ordem e um novo Brasil, um país melhor. São Paulo havia mostrado que tinha sangue para fazer Getulio Vargas a não usurpar a soberania nacional com seus desmandos e atitudes ditatoriais. São Paulo havia reagido, com a Revolução de 32, às botas do caudilho Getulio Vargas, resgatando a liberdade… O “vitorioso” Getulio promulgou uma nova Constituição, votada 723 dias depois de 9 de julho de 1932. Mas ele, com a ânsia de poder que tinha, não respeitou essa nova Constituição, arquivou-a apenas pouco mais de mil dias de sua vigência, dirigindo o Brasil como ditador. Mas esses tempos já são outro capítulo da História…

Para os ideais de 9 de Julho nunca morrerem
E para que a luta e os ideais dos que lutaram em 1932 não caiam no esquecimento, é que no feriado paulista de 9 de julho são feitas as comemorações. No Vale do Paraíba, uma das cidade que realiza essas comemorações, é a cidade de Cunha. No dia 8 tropas de fuzileiros navais fazem a pé o mesmo percurso que os fuzileiros fizeram em 1932 quando subiram do litoral de Paraty para atacar Cunha, e dia 9 desfilam junto com tropas do Exército do 5º B.I.L. de Lorena, em um congraçamento de duas tropas que lutaram em lados opostos, mas hoje prestam homenagem aos que lutaram dos dois lados e se matavam em nome do amor pelo Brasil. E assim nas comemorações de Cunha e de outras cidades, no feriado de 9 de julho, é relembrado o feito dos paulistas e de outros brasileiros que lutaram por um Brasil melhor. Essas comemorações e lembranças do significado de 9 de julho indicam que os ideais democráticos não morreram….
Notas:1. Este artigo é baseado em fatos encontrados em vários livros, dentre eles “A Revolução de 32” de Hernani Donato; “São Paulo contra a ditadura”, dos capitães Heliodoro Tenório e Odilon Aquino de Oliveira e “Contribuição para a história da Revolução Constitucionalista de 32” de Euclides Figueiredo e do livro “1932 – Os deuses estavam com sede”, do próprio autor, Antonio de Andrade, de Lorena, SP, cujo pai Firmo de Andrade Jr. lutou em 1932 como padioleiro. Veja detalhes no site http://www.editora-opcao.com.br/
Leia outros artigos, com fotos, sobre esse tema:

“1932 e o Brasil de hoje: as Revoluções necessárias”
“1932 – Yes, o Brasil tem heróis”
“1932 e hoje: a ganância pelo poder”
“1932 visto por um menino de 10 anos”
“1932 – O desespero hoje das viúvas de ex-combatentes”.

O autor recebeu em 9 de julho de 1999, da Prefeitura de Cunha, SP, um diploma e medalha “Paulo Virgínio – Herói Constitucionalista” pelo “apoio, contribuição e ajuda á Memória da Revolução de 1932”.
Fonte: http://www.editora-opcao.com.br/ada12.htm