Conheça o evento mais trágico e emblemático da história paulista

Capão da Traição é o nome dado a um episódio ocorrido em meio à Guerra dos Emboabas, envolvendo os bandeirantes paulistas e os emboabas – portugueses aliados a imigrantes e habitantes das demais regiões do Brasil. 

De acordo com a versão mais aceita sobre os acontecimentos, tudo ocorre durante uma das batalhas finais do confronto, em um capão (região de mata rasteira cercada por florestas) localizado em uma região entre São João del Rei e Tiradentes, próximo ao rio das Mortes. 

Os paulistas eram chefiados pelo bandeirante Manuel de Borba Gato, guarda-mor das minas, e os emboabas, pelo português Manuel Nunes Viana, um rico comerciante. Ali, um grupo de cerca de 300 paulistas, em retirada e em desvantagem numérica, conseguiu, mesmo assim, impor baixas significativas a seus inimigos.

Bento do Amaral Coutinho, que era o comandante de um exército de mil homens, deu a promessa ao grupo de paulistas de poupar suas vidas caso entregassem suas armas. Em um ato de profunda covardia, com estas já entregues, Bento Coutinho mandou assassinar todo o grupo. 

O suposto local ainda hoje é chamado de Capão da Traição, em referência ao infame ato. O conflito durou cerca de dois anos (1707 a 1709) e que terminou com a retirada dos paulistas das jazidas de ouro da capitania de São Vicente, atual região das Minas Gerais.

Motivos

O confronto teve como motivo principal a disputa pela exploração das minas de ouro recém-descobertas na região e os paulistas tencionavam explorá-las com exclusividade, pois tinham descoberto as minas. Tal descoberta atraiu dezenas de milhares de pessoas, mas como a região era parte da Capitania de São Vicente, os bandeirantes paulistas não queriam dividir o ouro. 

Por outro lado, a presença de tanta gente levou a uma crise de abastecimento. Então os comerciantes forasteiros viram ali uma oportunidade de lucro e queriam o monopólio do comércio. Dessa forma, as principais causas do conflito foram o monopólio na exploração das minas de ouro e na comercialização de gêneros de primeira ordem e os emboabas passaram a formar uma comunidade própria dentro da região. 

Como a situação ficou insustentável, Borba Gato decidiu expulsar os emboabas da região. Mas como os paulistas eram minoria, foram derrotados e expulsos por Viana, indo na direção de Goiás e Mato Grosso, descobrindo novas jazidas. Por fim, também Viana acabou sendo expulso de Minas pelo governador do Rio de Janeiro, após o massacre feito pelos emboabas contra os paulistas no Capão da Traição.

Mortos

O número de vítimas fatais no Capão da Traição é algo obscuro. Apesar de várias fontes insistirem num total de 300 vidas sacrificadas, alguns pesquisadores falam até em mil mortos. Tanta incerteza se deve à escassez de registros escritos e de resquícios concretos. Até mesmo o local do acontecimento é fruto de enorme discórdia.

Com base em um dos poucos relatos da época, o do sargento-mor português José Álvares de Oliveira, o verdadeiro Capão da Traição teria ocorrido a cerca de 10 quilômetros do local apontado geralmente pela historiografia oficial (“coisa de légua e meia ao rumo do Norte”, segundo o documento), no atual município de Coronel Xavier Chaves. Como a região nunca foi habitada, a teoria, reforçada por relatos de moradores, é que ali existe ali um cemitério de covas rasas, e que estas abrigariam os restos mortais das vítimas do Capão da Traição.

Resultados 

As principais consequências da Guerra dos Emboabas resultaram em regulamentação da distribuição de lavras e da cobrança do quinto. São Paulo e as Minas de Ouro se transformaram em capitanias e São Paulo deixou de ser vila para se tornar cidade. Marcou também o fim das lutas na região das minas, quando os paulistas resolveram ir para o centro oeste, onde descobriram novas minas de ouro em Mato Grosso e Goiás.

Curiosidades sobre a Guerra dos Emboabas

O palavra emboaba era uma expressão dos índios para designar as aves que tinham penas até os pés, mas foi também utilizada pelos paulistas para se referir aos estrangeiros que queriam suas terras, pois eles usavam botas, enquanto que os paulistas andavam descalços.

Na batalha no Capão da Traição, os emboabas mataram mais de 300 paulistas. No fundo, os portugueses buscavam, mesmo, afirmar seu poder de colonizador sobre os nativos.